quinta-feira, 29 de março de 2018

Blade Runner e os personagens do livro que ficaram de fora do filme

Já falei algumas vezes sobre "Blade Runner" e "Andróides Sonham Com Ovelhas Elétricas?aquiaqui e sobre o segundo filme aqui. Pra mim o livro e os dois filmes se completam. Falo agora um pouco sobre personagens que foram excluídos e modificados na adaptação cinematográfica de 1982.


Animais artificiais: embora eles sejam mencionados entre Rick e Rachael no filme (ao chegar na Tyrell Corporation, Rick pergunta se a coruja é de verdade), no livro "Andróides Sonham Com Ovelhas Elétricas?", eles têm mais peso na história. Animais reais são raríssimos e possuir um é símbolo de status, o que faz com que muitos adquiram animais elétricos parecidíssimos com os verdadeiros.


Iran, a esposa de Rick: no livro, Rick é casado com uma mulher cuja característica principal é a apatia. Os andróides que eu persigo tem mais desejo de viver do que a minha esposa, diz Rick em determinado momento.


Luba Luft, a andróide cantora de Ópera: impressiona Rick com seu talento. Como algo sem humanidade alguma poderia expressar tanta emoção? É ela quem planta na cabeça de Rick a dúvida sobre ser andróide ou humano ao sugerir que ele também se submeta ao teste Voight-Kampff.


Willbur Mercer: ele é Deus nessa realidade. As pessoas se conectam com ele através da caixa de empatia, em que revivem sua experiência de escalar uma montanha e ser atingido por pedras durante o percurso. Algo crucial sobre Mercer é revelado perto do fim da história.


John Isidore: ele é o motorista do "hospital veterinário" de animais elétricos. Por ter um QI abaixo da média, não pôde emigrar para as colônias fora da Terra. É ele quem abriga Roy e Pris sem se dar conta de que são andróides e de suas intenções. Isidore é algo raro nos livros de Philip K. Dick: um personagem genuinamente puro e bondoso.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Marilyn Monroe


Quando me interessei por cinema clássico, assisti "O Pecado Mora ao Lado" e "Os Homens Preferem as Loiras", com Marilyn Monroe. Estava seguindo o protocolo das descobertas cinematográficas. Não fiquei impressionado com ela, mas decidi dar mais uma chance. Assisti então "Niagara" e ali eu soube que tinha sido finalmente hipnotizado.

Pouco tempo depois, eu estava assistindo a todos os seus filmes e devorando livros sobre sua vida - nem todos bons. "Marilyn e JFK", de François Forestier, parece pouco confiável, além de se referir à Marilyn e Jackie de modo misógino. Em "Marilyn", Norman Mailer aparenta maior preocupação em rebater dados de outros escritores do que em contar a história dela.

Se eu tiver que recomendar um livro biográfico seria "Os Últimos Anos de Marilyn Monroe" de Keith Badman. Através de uma pesquisa bem feita, o autor esmiuça detalhes da vida da atriz nos anos de 1961 e 1962: sua internação em uma clínica psiquiátrica aos 35 anos, possíveis estupros, seu vício em remédios, seu relacionamento com o irmãos Kennedy e com aquele que nunca a abandonou - o ex-marido Joe DiMaggio. Lembro de ter achado esse livro fascinante e perturbador ao mesmo tempo.


Sobre filmes, eu recomendaria "Don't Bother to Knock", em que Marilyn interpreta uma babá com problemas mentais; e "Niagara", em que faz uma mulher que planeja a morte do marido. O interessante desses dois títulos é que as personagens fogem do clichê loira-burra-sensual que viria a se tornar lugar comum em sua carreira.

Se eu tiver que recomendar um momento musical, seria ela cantando "One Silver Dollar" no filme "River of No Return". Fuja do filme: é horroroso. Mas ouça a música, que é perfeita e ficou linda na voz dela.


segunda-feira, 12 de março de 2018

Major Tom e filmes espaciais


Nesse fim de semana eu assisti ao filme Lunar. Ele é de 2009, mas não me importei na época do lançamento porque ainda não era tão ligado à ficção científica. Na história, um astronauta interpretado por Sam Rockwell está no espaço, prestes a concluir uma missão de 3 anos na Lua.

São perceptíveis algumas influências nesse filme. A mais nítida é a de 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968) - é impossível não comparar o computador GERTY de Lunar ao computador HAL 9000. Também consigo enxergar nele algo de Solaris, filme soviético de 1972 (considerado a resposta dos russos ao sucesso de 2001, ou o anti-2001), baseado no livro de Stanislaw Lem - que aliás tem um dos meus trechos preferidos - no que se refere à sanidade mental do personagem e suas possíveis alucinações.


Mas sem dúvida não dá pra assistir à Lunar sem pensar em Space Oddity do David Bowie, afinal de contas o filme foi dirigido por ninguém menos que o seu filho, Duncan Jones. Música que, por sua vez, também foi inspirada em 2001 e nos apresentou o Major Tom, personagem que não se limitou ao seu criador e também foi citado em músicas do Peter Schilling e da Lana Del Rey.

Os homens do espaço sentem falta de suas esposas e querem que elas saibam que as amam. O planeta Terra é azul - e não há nada que possam fazer.