segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Querido David


Na minha adolescência, a sua música chegou a mim na voz de outros caras: "The Man Who Sold The World" na do Kurt Cobain e "Heroes" na do Jacob Dylan, filho do seu amigo Bob. Lembro de ter ouvido "I'm Afraid of Americans" em 'Showgirls' e "Heroes" em 'Eu, Christiane F'. De ver o clipe maravilhoso e melancólico de "Thursday's Child" na MTV e o musical "Velvet Goldmine" inspirado na sua vida.

Mas foi em 2015 que você deixou de ser um mero conhecido pra se tornar um marco na minha vida. Meus melhores amigos me deram um livro sobre você, que eu devorei como se fosse uma Bíblia. O livro era sobre o processo criativo dos seus discos nos anos 70. Eu fiquei fascinado com o seu personagem Ziggy Stardust, o rock star andrógino e alienígena.

Descobri que tinhamos vários interesses em comum como astronomia, ufologia e paganismo. Descobri que o seu irmão era esquizofrênico e se matou. E que você disse as palavras do replicante Roy de Blade Runner para homenageá-lo: 'tears in the rain'.

Você tinha medo de um dia enlouquecer. Eu entendo isso. Eu também tenho. Apesar de sempre ouvir dos outros o quanto eu sou "calmo", eu sei o quanto há uma linha tênue entre a sensatez e a insanidade dentro de mim.

Muito antes de eu nascer, você rejeitou a hipermasculinidade imposta pela sociedade. Essa mesma que eu nunca tive. E se hoje, eu me sinto bem sem ela, é graças a pessoas corajosas como você. 

Você ficou lindo vestido de mulher em "Boys Keep Swinging". Você mudou tanto durante a sua vida. "Changes". Mudanças emocionais, de estilo de vida e de música. Mutações enquanto manifesto. Eu li "1984" do George Orwell por sua causa, por você tê-lo referenciado tanto no disco "Diamond Dogs" e foi um dos melhores livros que eu já li na vida.

"Space Oddity", "Life on Mars" e "Loving The Alien" me fazem sonhar com o espaço e a vida fora da Terra. Toda vez que eu ouço "Young Americans" eu sorrio. "Heroes" me conforta e me dá confiança. "Survive" e "Seven" me comovem. Eu ouço cada segundo dos 9:35 de "Cygnet Committee" e reflito sobre cada palavra cantada nela. Dá pra fazer as pazes quando a estrada chega ao fim? Assim como você diz no fim dessa música: eu quero acreditar! E eu quero viver!

Obrigado por cada música maravilhosa que você escreveu. Obrigado por me inspirar. Obrigado por ter feito mais que existir nesse mundo: você fez a diferença nele. E eu amo você, David.