segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Aldous Huxley: histeria, alienação e barbárie

1952. Em "Os demônios de Loudon", Aldous Huxley se mostra um excelente contador de histórias e adverte sobre a alienação obtida pela 'união' de pessoas em prol de organizações políticas: libertos de consciência, não há humanidade ou responsabilidade sobre julgamentos. Nesse cenário, uma multidão é equivalente a um câncer.

Para aliviar o sentimento de culpa, os sádicos sempre encontram justificativas para o seu divertimento:
- A brutalidade com crianças é racionalizada como 'disciplina'.
- A barbárie com infratores é conseqüência do imperativo categórico.
- A violência contra 'hereges' políticos e religiosos é um ato em benefício da 'verdadeira fé'.
- Para a brutalidade com raças, já foram usados argumentos científicos.
- Quanto aos loucos? 'São culpados de sua própria loucura, ou seja, merecem a brutalidade'.

1959. Em "A Situação Humana", Huxley reconhece a co-dependência entre fatores ambientais e hereditários. Se queremos ser 'eugenistas' de alguma forma, também devemos ser reformadores sociais: de que adianta uma raça humana magnífica sem condições para que suas qualidades se desenvolvam?

1931. O protagonista de “Admirável Mundo Novo” (seu livro mais famoso) escolhe o desconforto. Em suma, ele reclama o direito de ser infeliz. De estar sujeito a adoecer, passar dificuldades, ficar apreensivo pelo futuro e suscetível a todo tipo de dor física ou emocional, sem nenhum tipo de imunidade ou anestesia.

1961. O autor escreve a antítese de sua maior obra. Em “A Ilha”, o protagonista opta pelo amortecimento das emoções. Por estar menos consciente da realidade do mundo e dos horrores que o cercam, das próprias dores e rejeita o chavão bíblico “Perdoa-lhes. Eles não sabem o que fazem”. Ele sabe muito bem o que está fazendo. Todos sabem.

2018. Cada um desses livros que eu li nos últimos anos foi um tapa na cara. Um não, vários. Como um autor falecido há 55 amos pode ser tão atual e urgente? Seus livros são verdadeiros tratados sobre a situação e a psicologia humana (inclusive com várias críticas ferrenhas a Freud e Jung), as causas e consequências das autossugestões, catarses, pulsões de morte, alienação e (ir)responsabilidade social dos indivíduos quando parte de um coletivo.

Pensamos que somos algo único e maravilhoso no centro do universo. Mas na verdade somos apenas um leve atraso na infinita marcha da entropia”.
Não adianta, a raça humana é uma falha. Nós somos uma falha do universo.
Verdades... valores... espiritualidade genuína... petróleo”.
Bem vindos ao progresso e à vida moderna.


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