segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O Cinema e a Vida Após a Morte

O sobrenatural está presente no mundo do cinema há muitos anos. Filmes como "Drácula", "Frankestein" e "Zumbi Branco" com vampiros e mortos-vivos eram comuns nos anos 30 por servirem de metáfora para os capitalistas de Wall Street após a crise de 1929, mas foi na década de 40 que filmes dramáticos sobre a vida após a morte e a passagem entre os mundos ganharam força.

"Um Passo Além da Vida" (1944) foi um dos primeiros do gênero. Em um navio bombardeado na Segunda Guerra Mundial, os personagens mortos estão em uma espécie de purgatório em que um juiz designa o destino final de cada um. Em uma das cenas mais emocionantes, Prior (personagem de John Garfield), um homem anti-ético prestes a ser condenado ao inferno é salvo pela intervenção de uma senhora que se responsabiliza em olhar pelos seus atos. Prior não sabe, mas trata-se da mãe que o abandonou na infância. Para ela, a concepção de paraíso é estar perto do filho no "outro lado".

O boom de filmes semelhantes na época foi indicativo do senso inato de muitos de que a morte não é o fim, mas também uma forma de confortar as pessoas que perderam seus entes queridos na Segunda Guerra. Nas décadas seguintes, a temática perdeu força. Para rivalizar com a TV, o cinema apostou em sexo, violência e efeitos especiais para atrair as massas. Entretanto, no fim dos anos 70 a popularização do budismo tibetano e do psicodelismo instigou as pessoas sobre perda de consciência, alucinações, coma e experiências fora do corpo, trazendo de volta o interesse em roteiros sobre a vida após a morte.

Em "Ressurreição" (1980), após um acidente de carro, a personagem Edna fica na passagem entre os mundos até o retorno dos seus batimentos cardíacos. A intensa luminosidade das imagens na cena remete a um estado óptico provocado pelo uso de heroína. Recuperada, Edna descobre o poder de curar espiritualmente doenças de outras pessoas, sendo rotulada ao mesmo tempo de abençoada e demoníaca. Outro elemento forte presente é a serpente de duas cabeças que aparece em alguns momentos do filme e na Mitologia Grega significa "seguir em duas direções".


Em "Poltergeist" (1982), Carol Ann, a caçula de 5 anos de uma família de 5 pessoas, é sugada por espíritos para dentro do armário enquanto fenômenos paranormais acontecem na casa, sendo a televisão o único meio de contato entre a menina e a família.
Tanto em "Ressurreição" quanto em "Poltergeist", as personagens enxergam uma luz, uma referência à Luz Clara do Vazio citada no Livro Tibetano dos Mortos, e atravessá-la pode significar deixar totalmente o plano terreno.


"Um Passo Além da Vida", "Postergeist" e o mais recente "Os Outros" (2001) possuem como elemento em comum a existência de locais específicos para a permanência dos mortos. Esses lugares se tornam também personagens e funcionam como purgatórios ou refúgios onde só a libertação do sofrimento levaria as almas à ascensão.  

Em "Ghost" (1990) e "Um Olhar do Paraíso" (2009), os protagonistas Sam e Susie, respectivamente, após serem assassinados são incapazes de concluir o processo da morte por estarem presos ao plano físico por apego, ressentimento e sede de justiça. Como poltergeists, eles conseguem interferir no plano material, movendo objetos e sendo ouvidos por sensitivos, porém a motivação nesse caso é a tentativa de proteger as pessoas próximas de seus assassinos à solta. Uma vez cumpridas suas obrigações cármicas, em paz, os espíritos transcendem.

Nesses anos todos, o que o cinema fez foi tentar traduzir a busca pela compreensão do significado e propósito da morte, e independente das convicções pessoais dos espectadores, ótimos roteiros foram e serão gerados nessa perspectiva.

2 comentários:

  1. Tenho medo de Poltergeist. Nunca consegui assistir haha

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    1. Amo Poltergeist! hahahaha Preciso dar uma complementada nesse texto!

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