quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Heathcliff ("O Morro dos Ventos Uivantes")/ Orlando ("Orlando")


"O Morro dos Ventos Uivantes" é um livro de 1847 escrito por Emily Brontë. "Orlando" foi publicado por Virgínia Woolf em 1928.

Ambos os livros são dividido em duas partes.

Na primeira parte do "Morro dos Ventos Uivantes", Heathcliff é apresentado como um órfão adotado por um fazendeiro, Earnshaw, que já tinha dois filhos biológicos: Hindley e Catherine. Heathcliff e Catherine tem uma afeição imediata, ao passo que Hindley hostiliza Heathcliff e, na morte do pai, submete-o a humilhações físicas e psicológicas.
Na primeira parte de "Orlando", o personagem é um nobre inglês nascido no século 16, sedutor, apegado aos animais e a uma vida bucólica ao mesmo tempo em que gosta de escrever e sonha em ter seus textos publicados.

No primeiro ato de ambos os livros, os protagonistas sofrem situações de desilusão e abandono. Catherine decide se casar com Edgar Linton, mais instruído e com melhores condições de vida do que Heathcliff, um trabalhador braçal praticamente escravizado pelo irmão.
Orlando se envolve com uma princesa russa que o abandona no dia marcado para deixarem Londres. Além disso, tem seu sonho de ser reconhecido como escritor frustrado por Nicholas Greene, um influente poeta que ridiculariza seus escritos.

O envolvimento com mulheres traiçoeiras, o isolamento e a introspecção de Heathcliff e Orlando após essas situações talvez sejam as únicas semelhanças entre eles. Vale ressaltar que na primeira parte, é possível admirar Heathcliff por sua resiliência (o que não acontecerá na segunda parte do romance).

A partir daí, os dois livros e seus personagens seguem rumos muito diferentes. O retorno de Heathcliff na segunda parte é marcado pela sua transformação em um homem cruel, perverso e impiedoso no melhor estilo "Velho Testamento".
Orlando, depois de passar uma semana em uma espécie de coma, acorda no corpo... de uma mulher. Isso mesmo. Após ter vivido 30 anos como homem, Orlando muda naturalmente de sexo.

Não vou contar mais para não estragar a surpresa de quem ainda não leu e se interessou.

Talvez a comparação entre os livros e seus protagonistas seja injusta, já que derivam de épocas e estilos literários diferentes. Na minha experiência com os dois livros, o "Morro" foi bem mais fácil de ler. Pela narrativa ser baseada na ação, o ritmo dos acontecimentos é acelerado, e o desenrolar dos fatos desperta muita curiosidade. O livro de Virginia é um pouco maçante por ser muito descritivo e as divagações sobre as diferenças entre os universos masculino e feminino se tornam cansativas. Como a narrativa é baseada no personagem, o ritmo das acontecimentos é bem mais lento também.

Ambos são livros excelentes de duas grandes autoras, cada um a sua maneira, mas enquanto "O Morro dos Ventos Uivantes" soa as vezes - de maneira incômoda - como uma ode ao machismo e à violência doméstica, "Orlando" foi um precursor nas discussões que viriam nas décadas seguintes sobre o feminismo e até mesmo a transexualidade.

2 comentários: