sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

A Revolução Sexual (1936) - Wilhelm Reich


Histórico de leitura:

16%A repressão sexual não apenas torna o indivíduo enfermo, mas também o torna incapaz para a cultura e para o trabalho.

25%Na transição de uma sociedade autoritária para uma livre, as regras seriam: o autocontrole dos impulsos naturais biológicos e a regulamentação moral para os impulsos secundários antissociais. 

A moral forçada do dever conjugal (que impõe a mulheres ter relações sexuais sem vontade para "cumprir seu dever") e da autoridade familiar é uma moral de covardes incapazes. O moralista jamais compreenderá ou admitirá que a ordem social que ele defende resulta em miséria sexual. 

O higienista sexual Gruber colocava TODA a responsabilidade econômica-social em cima da virgindade pré-nupcial da mulher. A contradição dessa ideologia se dá da seguinte forma: essa exigência priva a juventude masculina de objetos amorosos e, secundariamente, financia o adultério e a prostituição. Em suma, a luta contra a prostituição, relações extramatrimoniais e doenças venéreas tendo como base a abstinência sexual é contraproducente. O casamento é a espinha dorsal da família autoritária.

32% - Quem vai combater a prostituição? A mesma sociedade reacionária incapaz de destruir o desemprego e a ideologia da castidade? A educação sexual encontra-se em um beco sem saída.

40% - Temor e hipocrisia sexual constituem o núcleo do comodismo burguês. Pessoas assim estruturadas são incapazes de democracia. A família na estrutura triangular (normatizada) garante a manutenção do Estado e da sociedade - no sentido reacionário. A masturbação, tão condenada pela Igreja, enfraquece sentimentos de culpa patogênicos.

51%Casamento compulsório: Devem ser dados passos para abolir o sentimento de culpa sexual, substituir a moral compulsória por uma consciência interna de responsabilidade. 

Distinguir meticulosamente relações sexuais genuínas das que correspondem aos interesses econômicos a à posição da mulher e das crianças. 

Aqueles que jamais tiveram coragem para uma relação sexual livre (casual, instintiva e/ou sem ligação afetiva) estavam sob sentimento de culpa infundado, portanto neurótico. O casamento sem conhecimento mútuo sexual prévio e sem adaptação sexual frequentemente leva a catástrofes. 

A dificuldade fundamental da relação sexual permanente é o conflito da diminuição do desejo sexual ao passo que a ligação amorosa aumenta. Isso pode levar a sentimentos de culpa por ter desejos por outras pessoas e ao ódio inconsciente. Tal embotamento, porém, é reversível pelo reconhecimento das causas das perturbações, como a admissão da naturalidade do desejo por outros, de modo que o interesse sexual pelo parceiro é reacendido.

64%A legislação do czarismo (sistema político que vigorou por 5 séculos na Rússia e foi derrubado pela Revolução) colocava a posição da mulher e dos filhos ilimitadamente submissa aos pais. Lênin decretou a dissolução do matrimônio e do registro de estado civil. O fim do czarismo, a retirada do poder da classe até então dominante e do seu aparelho estatal de repressão fez com que caísse também o poder do pai sobre os membros da família. Entretanto, a contradição entre a ideologia soviética e as condições reais da época (mulheres ainda não emancipadas) dificultavam as noções de liberdade sexual.

Apesar do ideal de libertação sexual da Revolução Russa, alguns anos depois, veio o retrocesso (homossexualidade voltou a ser crime; poucos direitos à mulher; demonização do aborto) por volta de 1935. O próprio conceito de União contribuiu pra isso.

Outra pressuposição para o refreamento na Rússia foi a enorme divulgação de opiniões errôneas como a de que com a queda da burguesia e o proletariado assumindo o poder, a questão sexual se resolveria por si só. Deixou de se perceber que essas condições PODERIAM melhorar as condições de vida sexual, mas não eram elas PRÓPRIAS essa vida. Um lote de terreno que se adquire para uma casa não é a própria casa. 

Com o cenário político, o erotismo nos jovens passou a ser secundário. O comunismo esperava disciplina da sociedade, mas como consegui-la voluntariamente?

77%No capitalismo, o aborto era uma questão puramente de dinheiro, e a lei do aborto portanto favorecia claramente certas classes e levava as mulheres sem meios ao charlatão.

"Intelectuais" sexualmente distorcidos e neuróticos podem confundir em vez de educar. Foi o que aconteceu na União Soviética. O filósofo sexual Salkind foi um deles: ele considerava a sexualidade infantil parasitária; queria eliminar a sexualidade no interesse do coletivismo, desconsiderando que justamente a didática inibitória é quem cria a delinquência sexual. 

A questão de (falta de) espaço para a juventude, os solteiros e até mesmo os casais vivendo nas comunas soviéticas ajudou a gerar a catástrofe sexual.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Madonna, Andy Warhol, nudez e não ter vergonha.

Madonna chegou em Nova York no final da década de 70 sem um tostão e uma das coisas que fez pra sobreviver foi posar nua para estudantes de arte. Em 1985, quando não era mais anônima, essas fotos de 1979 vieram a público. 

Mesmo estando no começo da carreira e querendo publicidade e atenção, ela se sentiu invadida. Entretanto, questionada pelo NY Post, sua resposta foi: "I'm not ashamed!" ("Não me envergonho!"). Os artistas Andy Warhol e Keith Haring grafitaram em cima da manchete e a transformaram em um quadro.

Muito pode ser aprendido com esse episódio. A vida é feita de escolhas e oportunidades. Assumi-las de cabeça erguida é o que deve ser feito. Mentes brilhantes se reconhecem. Warhol transformou a "falta de vergonha" de Madonna em arte. E eu faço dessa história uma inspiração pra todo e qualquer momento em que eu percebo que não me sinto suficientemente orgulhoso de mim mesmo. I'm not ashamed!




sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Carta de amor à Madonna

Madonna é uma pessoa. E como tal, cheia de características brilhantes e falhas. Tem coisas nela que eu amo, outras que odeio. Algumas de suas escolhas eu abomino. Quando ela me surpreende... ela costuma acertar em cheio.

Mas Madonna é mais que uma pessoa. É uma instituição. É um estilo de vida. É a coragem sobressaindo os medos. É não-conformismo. É não aceitar simplesmente "não" como resposta. Madonna é disciplina e autocontrole. Arrisco dizer que ela ajudou a formar meu caráter e incentiva até hoje alguns hábitos pessoais meus, como fazer yôga, me exercitar, me alimentar direito e beber pouco. Madonna é determinação e busca pela perfeição no que se propõe, mesmo que pague um preço alto e as críticas - e até mesmo os fracassos - venham. 

Madonna é mais que a luta contra o preconceito, é fazer algo a respeito disso. Madonna foi informação num mundo de analfabetos funcionais, um mundo no qual pais e autoridades governamentais nunca foram capazes de prover educação sexual efetiva. Madonna foi a ousadia em alertar sobre prevenção do HIV e sexo seguro no encarte do seu disco de 1989 e em discutir livremente interesses sexuais em um livro lançado em 1992.

Madonna é colocar sal nas feridas abertas pela Igreja. Aquela que entra numa paróquia com um vestido decotado e beija a imagem de um santo negro. Madonna não é a cantora mais potente, a melhor dançarina ou a mulher mais bonita, mas é alguém que usa a própria arte para que as pessoas reflitam e que faz todos prestarem atenção no que ela fala e faz.

Talvez Madonna não seja uma pessoa no final das contas. Talvez Madonna seja um estado de espírito.


terça-feira, 7 de maio de 2019

5 Curiosidades sobre a Terra e o Espaço

1) A temperatura no centro da Terra é de 5000 ºC e, embora não seja um ímã, produz um campo magnético.
O núcleo terrestre é líquido e composto por ferro (90%) e níquel.


2) A primeira ficção sobre uma viagem do homem à Lua foi escrita em 165 d.C.
Para Darwin, a Lua e a Terra constituíam um único corpo espacial que se separou.
99,5% de uma viagem da Terra à Lua é feita à vácuo.


3) A temperatura na superfície de Vênus é de cerca de 450 ºC, mas suas nuvens são bem mais frias (-20 ºC) e compostas essencialmente de ácido sulfúrico.
Como muitos organismos terrestres são capazes de viver em condições ácidas, se alimentar de CO2 e produzir ácido sulfúrico, alguns cientistas não descartam a possibilidade de haver vida nas nuvens venusianas.


4) Júpiter é um planeta gasoso que protege a Terra dos asteroides (que são restos de planetas que explodiram) através da sua atração gravitacional.


5) Mercúrio e Vênus não tem luas; Marte tem dois satélites e Saturno tem mais de 50 luas.


Fonte: Isaac Asimov - 111 questões sobre a Terra e o Espaço; Salvador Nogueira - Extraterrestres.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Por que ler Isaac Asimov, o pai dos robôs?


Isaac Asimov nasceu na Rússia em 1920, mas foi criado e viveu nos Estados Unidos. Já graduado em Bioquímica, começou a escrever ficção científica e é considerado um dos grandes nomes da chamada Era Dourada do gênero.

Tendo os robôs como protagonistas de várias histórias, Asimov criou as 3 leis da Robótica na ficção:
1) Um robô não pode ferir um ser humano, ou por inação, permitir que um ser humano sofre algum mal
2) Um robô deve obedecer incondicionalmente um ser humano, exceto quando tais ordens entrem em conflito com a primeira lei
3) Um robô deve proteger a própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a primeira e segunda leis.

Rompendo com o complexo de Frankenstein, seus robôs não eram criaturas hostis que se voltavam contra os criadores. Muitas histórias eram até leves e divertidas, as melhores delas reunidas no livro de contos "Eu, Robô", embora a melhor delas na minha opinião, "O Homem Bicentenário", tenha ficado de fora dessa coletânea.

Eu, como boa cria de Philip K. Dick, estranhei um pouco sua escrita maniqueísta, sem os personagens piradões, alucinações, psicoses, drogas e exegeses característicos das obras do Philip. Minha primeira leitura foi "O Fim da Eternidade", que trata da possibilidade de viajar no tempo como se anos e séculos fossem lugares e das consequências futuras de se mexer no passado, tendo sido inspiração óbvia para filmes como Efeito Borboleta e o episódio San Junipero de Black Mirror.

Não gosto tanto dos livros do Asimov como gosto dos contos. Li recentemente "Juventude e outros contos", com foco em alienígenas e achei fantástico.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Aldous Huxley: histeria, alienação e barbárie

1952. Em "Os demônios de Loudon", Aldous Huxley se mostra um excelente contador de histórias e adverte sobre a alienação obtida pela 'união' de pessoas em prol de organizações políticas: libertos de consciência, não há humanidade ou responsabilidade sobre julgamentos. Nesse cenário, uma multidão é equivalente a um câncer.

Para aliviar o sentimento de culpa, os sádicos sempre encontram justificativas para o seu divertimento:
- A brutalidade com crianças é racionalizada como 'disciplina'.
- A barbárie com infratores é conseqüência do imperativo categórico.
- A violência contra 'hereges' políticos e religiosos é um ato em benefício da 'verdadeira fé'.
- Para a brutalidade com raças, já foram usados argumentos científicos.
- Quanto aos loucos? 'São culpados de sua própria loucura, ou seja, merecem a brutalidade'.

1959. Em "A Situação Humana", Huxley reconhece a co-dependência entre fatores ambientais e hereditários. Se queremos ser 'eugenistas' de alguma forma, também devemos ser reformadores sociais: de que adianta uma raça humana magnífica sem condições para que suas qualidades se desenvolvam?

1931. O protagonista de “Admirável Mundo Novo” (seu livro mais famoso) escolhe o desconforto. Em suma, ele reclama o direito de ser infeliz. De estar sujeito a adoecer, passar dificuldades, ficar apreensivo pelo futuro e suscetível a todo tipo de dor física ou emocional, sem nenhum tipo de imunidade ou anestesia.

1961. O autor escreve a antítese de sua maior obra. Em “A Ilha”, o protagonista opta pelo amortecimento das emoções. Por estar menos consciente da realidade do mundo e dos horrores que o cercam, das próprias dores e rejeita o chavão bíblico “Perdoa-lhes. Eles não sabem o que fazem”. Ele sabe muito bem o que está fazendo. Todos sabem.

2018. Cada um desses livros que eu li nos últimos anos foi um tapa na cara. Um não, vários. Como um autor falecido há 55 amos pode ser tão atual e urgente? Seus livros são verdadeiros tratados sobre a situação e a psicologia humana (inclusive com várias críticas ferrenhas a Freud e Jung), as causas e consequências das autossugestões, catarses, pulsões de morte, alienação e (ir)responsabilidade social dos indivíduos quando parte de um coletivo.

Pensamos que somos algo único e maravilhoso no centro do universo. Mas na verdade somos apenas um leve atraso na infinita marcha da entropia”.
Não adianta, a raça humana é uma falha. Nós somos uma falha do universo.
Verdades... valores... espiritualidade genuína... petróleo”.
Bem vindos ao progresso e à vida moderna.


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

"A Arma e outros contos" de Philip K. Dick.

Lançado pela L-Dopa Publicações, "A Arma e outros contos" reúne sete contos menos conhecidos do autor Philip K. Dick em sua fase inicial, fortemente influenciado pelo Pós-Guerra e a Guerra Fria.

"A caveira" abre o livro com uma história de viagem no tempo em que a guerra é tratada como um método de seleção natural. "A cripta de cristal" surpreende com uma forma de terrorismo inusitada. "A arma", apesar de constar no título do livro, é o conto que considero menos interessante, tratando de uma arma de guerra que toma decisões autonomamente, sem um operador.

Os dois contos seguintes parecem se aproximar mais daquilo a que seus leitores estão acostumados: o mundo das pseudo-realidades e das perturbações psicológicas. Em "Ali jaz o wub", uma espécie animal alienígena negocia o próprio abate com seus caçadores e em "O flautista na selva", homens sadios passam a acreditar que se tornaram plantas e agir como tal. 

"Sr. Espaçonave" é um dos mais filosóficos. Um cérebro humano é transplantado em uma máquina espacial sem que se tenha certeza da permanência das faculdades mentais individuais e de que modo as entidades corpo/mente funcionam em conjunto e/ou separadamente, além de discutir a violência como hábito ou instinto.

"Os defensores" fecha o livro com uma referência à alegoria da caverna de Platão ao mostrar a humanidade amedrontada pela guerra vivendo no subsolo da Terra e acreditando nas notas enviadas pelos robôs que habitam a superfície. Esse conto surpreende por parecer mais algo do Isaac Asimov do que do próprio Philip, com os robôs da história rompendo com o Complexo de Frankenstein.